Estamos todos profundamente preocupados com a família.
Levantamentos e estatísticas estão a dizer que um grandíssimo número famílias é
constituído da mulher e do filho ou dos filhos. Não podemos deixar
de nos empenhar em ajudar a família a se solidificar.
Tudo começa com o casal
Tudo começa com o casal, ele e ela. Quanto mais sólido e mais
fecundo for o casal, mais sólida e mais fecunda será a família. O que está por
detrás da realidade do casal e da família é o amor, a vontade de sair de si, o
desejo persistente de estar voltado para o outro. Na verdade, quando um
rapaz se “encanta” por uma moça, e vice-versa, um e outro sentem a urgência de
não pensarem em primeiro lugar em suas coisas e nem rodopiar em torno de
seus pequenos e miúdos interesses. O outro é mais importante. As pessoas se
conhecem e intuem que podem se entregar uma à outra na confiança irrestrita.
Esse amor dos começos tem perfume de paixão (ou de uma certa doença que se
chama paixonite). Na medida em que vão se conhecendo, ele e ela,
fazem um projeto, traçam as linhas de um amanhã juntos.
Um texto, preparado para os casais das Equipes de Nossa
Senhora do Pe. Caffarel, assim se exprime: “Lembremo-nos do estado de ‘graça’
em que ficamos quando nos conhecemos. A solidão e a incerteza do futuro
despareceram porque uma pessoa nos escolheu, nos amou e nos deu segurança de
que tínhamos necessidade para enfrentar a vida, para curar o passado. Isso nos
levou a nos examinarmos em profundidade com o desejo de oferecer nossa verdade
ao outro. O outro, por sua vez, nos ofereceu seu tempo, seus pensamentos e essa
correspondência de amor parece-nos um dom imerecido. O mundo encheu-se de
significado e nossa vida se unificou” (Ser família na Igreja e no
mundo, Vozes, p. 48).
Importante esse encontro inicial, ou esses encontros
iniciais. Não podem ser postos em dúvida quando de fato aconteceram. E os dois
unem seus destinos. Cria-se uma nova família vivida com as famílias de origem
em encontros regulares. Algo novo vai surgindo porque tanto ele quanto ela
deixaram pai e mãe…. e começaram a se dar conta de que algo novo crescia: o
laço conjugal. Os filhos vão dar rosto de família ao casal. Casal, suas
famílias, os filhos, as pessoas com as quais a família convive. Tudo vai
robustecendo o casal.
No meio da caminhada, muita coisa foi acontecendo. Voltemos
ao texto das Equipes de Nossa Senhora: “No decorrer da caminhada, passamos,
talvez, por crises conjugais às quais se juntaram, quem sabe, problemas no
momento da adolescência-puberdade das crianças; tivemos também problemas de
saúde. Depois veio o tempo da dispersão dos filhos: às vezes, a casa se enche
de filhos e netos, às vezes, fica vazia. O círculo se fecha e voltamos a
ser o casal que éramos no começo, mas com uma bagagem de amor maior, com
uma noção mais positiva do sofrimento, com um conhecimento mais profundo do
mundo” ( Ser família…, p. 49).
No começo de tudo, o casal, durante o tempo todo o
casal, mais tantos e tantas, depois novamente o casal. O fundamento da família
inegavelmente é o casal.
O casal, depois que os filhos se foram, viverá uma nova fase
de seu amor. Ele e ela aprenderão a descobrir novas paisagens, a escrever
novas páginas de um bem-querer marcado pelo companheirismo. Essa solidão a dois
pode ser rompida pelo desaparecimento de um que precede o outro no encontro com
Deus. Os dois voltam a ser um.
A família é uma realidade de camaleão. O importante é
entrar na corrente do amor que é vivido no meio de certezas e receios, de
vaivéns, de conflitos e de esperanças… Mas sempre o amor de um casal como base
de tudo.
A família começa a existir quando nasce um novo projeto
Ele e ela, cada um com sua história, suas trajetórias, suas
luzes e suas sombras. O amor de um homem e de uma mulher é o encontro de duas
memórias históricas. Cada um traz tudo aquilo que vivenciou anteriormente. O
que viveu de bom e de menos bom. Cada um traz as marcas de sua família:
uma família cristã ou não, um deles é filho de mãe sem esposo, um teve traumas
violentos na adolescência, outro teve até vontade de se consagrar a Deus na
vida religiosa. Agora, aos poucos, no dia a dia, nas conversas, nos gestos de
acolhida os dois vão construir um novo projeto, a sua
família, diferente da família dele e da família dela. Não quererão reproduzir o
passado, mas saberão recolher em suas histórias uma cesta de frutos saborosos
com os quais forjarão a nova família: o modo de festejar o Natal, o senso de
carinho para com os idosos, as reuniões familiares com música e alegria…
Ninguém impõe nada a ninguém. Ninguém submete ao regime da família do
outro ou da outra. Há uma maneira nova de família que surge.
Tudo começa com o amor do casal…
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