quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Quando se cria uma família? (I)







Estamos todos profundamente preocupados com a família. Levantamentos e estatísticas estão a dizer que um grandíssimo número famílias é constituído da mulher e do filho ou dos filhos.  Não podemos deixar de  nos empenhar em ajudar a família a se solidificar.

Tudo começa com o casal

Tudo começa com o casal, ele e ela. Quanto mais sólido e mais fecundo for o casal, mais sólida e mais fecunda será a família. O que está por detrás da realidade do casal e da família é o amor, a vontade de sair de si, o desejo persistente de estar voltado para o outro.  Na verdade, quando um rapaz se “encanta” por uma moça, e vice-versa, um e outro sentem a urgência de não pensarem em  primeiro lugar em suas coisas e nem rodopiar em torno de seus pequenos e miúdos interesses. O outro é mais importante. As pessoas se conhecem e intuem que podem se entregar uma à outra na confiança irrestrita. Esse amor dos começos tem perfume de paixão (ou de uma certa doença que se chama paixonite). Na medida em que vão se conhecendo, ele e ela, fazem um projeto, traçam as linhas de um amanhã juntos.

Um texto, preparado para os casais das Equipes de Nossa Senhora do Pe. Caffarel, assim se exprime: “Lembremo-nos do estado de ‘graça’  em que ficamos quando nos conhecemos. A solidão e a incerteza do futuro despareceram porque uma pessoa nos escolheu, nos amou e nos deu segurança de que tínhamos necessidade para enfrentar a vida, para curar o passado. Isso nos levou a nos examinarmos em profundidade com o desejo de oferecer nossa verdade ao outro. O outro, por sua vez, nos ofereceu seu tempo, seus pensamentos e essa correspondência de amor parece-nos um dom imerecido.  O mundo encheu-se de significado e nossa vida se unificou” (Ser família na Igreja e no mundo,  Vozes, p. 48).

Importante esse encontro inicial, ou esses encontros iniciais. Não podem ser postos em dúvida quando de fato aconteceram. E os dois unem seus destinos. Cria-se uma nova família vivida com as famílias de origem em encontros regulares. Algo novo vai surgindo porque tanto ele quanto ela deixaram pai e mãe…. e começaram a se dar conta de que algo novo crescia: o laço conjugal. Os filhos vão dar rosto de família ao casal. Casal, suas famílias, os filhos, as pessoas com as quais a família convive.  Tudo vai robustecendo o casal.

No meio da caminhada, muita coisa foi acontecendo. Voltemos ao texto das Equipes de Nossa Senhora: “No decorrer da caminhada, passamos, talvez, por crises conjugais às quais se juntaram, quem sabe, problemas no momento da adolescência-puberdade das crianças; tivemos também problemas de saúde. Depois veio o tempo da dispersão dos filhos: às vezes, a casa se enche de filhos e netos,  às vezes, fica vazia. O círculo se fecha e voltamos a ser o casal que éramos no começo,  mas com uma bagagem de amor maior, com uma noção mais positiva do sofrimento, com um conhecimento mais profundo do mundo” ( Ser família…, p. 49).

No começo de tudo, o casal,  durante o tempo todo o casal, mais tantos e tantas, depois novamente o casal. O fundamento da família inegavelmente é o casal.

O casal, depois que os filhos se foram, viverá uma nova fase de seu amor. Ele e ela aprenderão a descobrir novas paisagens, a escrever  novas páginas de um bem-querer marcado pelo companheirismo. Essa solidão a dois pode ser rompida pelo desaparecimento de um que precede o outro no encontro com Deus.  Os dois voltam a ser um.

A família é uma realidade de camaleão.  O importante é entrar na corrente do amor  que é vivido no meio de certezas e receios, de vaivéns, de conflitos e de esperanças… Mas sempre o amor de um casal como base de tudo.

A família começa a existir quando nasce um novo projeto

Ele e ela, cada um com sua história, suas trajetórias, suas luzes e suas sombras. O amor de um homem e de uma mulher é o encontro de duas memórias históricas. Cada um traz tudo aquilo que vivenciou anteriormente. O que viveu de bom e de menos bom. Cada um traz as marcas de sua família:  uma família cristã ou não, um deles é filho de mãe sem esposo, um teve traumas violentos na adolescência, outro teve até vontade de se consagrar a Deus na vida religiosa. Agora, aos poucos, no dia a dia, nas conversas, nos gestos de acolhida  os dois vão construir um novo projeto, a  sua  família, diferente da família dele e da família dela. Não quererão reproduzir o passado, mas saberão recolher em suas histórias uma cesta de frutos saborosos com os quais forjarão a nova família: o modo de festejar o Natal, o senso de carinho para com os idosos, as reuniões familiares com música e alegria… Ninguém impõe nada a ninguém.  Ninguém submete ao regime da família do outro ou da outra.  Há uma maneira nova de família que surge.


Tudo começa com o amor do casal…

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