Em nossa edição anterior começamos a refletir sobre o tema da
criação de uma família. Apoiados no livro das Equipes de Nossa
Senhora, Ser
família hoje na Igreja e no mundo, continuamos a aprofundar o assunto.
Famílias… Casa… Lar… Encontros… Memórias e lembranças… A sala
de comer, o quarto dos pais, a varanda, as cortinas, o balanço, os pés de
goiaba e de laranja lima, as refeições, as visitas, os filhos que nascem e os
avós que partem, as roupas para dias de festa e as coisas de todos
os dias…
Família e doação
Família é lugar de entendimento, de bem-querer, de dom. Nossa
cultura é egoísta e individualista. As pessoas, aos poucos, foram entrando numa
cultura narcisista, obsessivamente individualista. As crianças pensam em suas
coisas, seus passeios, seus interesses, seu lucro. Querem sempre receber a
troca de um gesto feito pelo outros. As pessoas perderam o senso da gratuidade.
Nada se faz de graça. A pergunta é esta: Quanto eu levo nisto? Passamos
o nosso tempo esperando tudo dos outros e acabamos decepcionados. Estamos
sempre presos a nós mesmos. Precisamos aprender a fazer o êxodo de nós
mesmos. “É assim que em família aprendemos a ter relações de amor. Não
são relações contabilizadas. Chego até aqui, para que você chegue até
lá. São relações de gratuidade e de oferta”. Ninguém é empregado de
ninguém. Dentro de suas possibilidades todos cooperam para que as coisas
funcionem harmonicamente em casa: limpeza, cuidado com as plantas,
atenções para com membros da família doentes e envelhecidos.
A vida tem necessidade de espaço e de tempo
A casa não existe apenas para proteger da chuva, do vento, do
frio, do sol. A casa é lar, lugar de calor, lugar quente e acolhedor. Não é
hotel, nem pensão. É lugar de se estar… Nem sempre estamos em casa. Há o
trabalho profissional dos pais e dos filhos mais velhos, há o tempo do estudo.
Por vezes, as pessoas precisam de dois empregos para sobreviverem. Pode
acontecer e acontece muitas vezes que os filhos sejam obrigados a permanecer em
casa boa parte do tempo sem a presença da mãe. Se queremos uma família será
preciso o tempo de estar em torno à mesa, tempo para uma oração em comum, tempo
para comemorar os aniversários, tempo para ficar perto de alguém que está
doente ou passando por um momento psicológico delicado.
Necessário se faz procurar um equilíbrio entre trabalho
profissional e vida de família. O trabalho pode ser fonte de realização, mas
também pode ser fuga, evasão. Não podemos dizer que nos amamos como marido e
mulher, como pais e filhos quando ninguém tem tempo para ninguém.
A vida existe se criarmos felicidade
“Criar a felicidade é dar a cada membro da família o
sentimento profundo, a convicção de ser amado por si mesmo. Um tal
desenvolvimento resulta do conhecimento e da acolhida do que somos, do
que pensamos, do que dizemos e é consequência também da certeza de
reconciliação. O que faz com que um filho se sinta feliz de voltar para
casa em vez de retardar o mais possível a sua volta? E a mesma coisa com o
casal? É saber que lá é esperado, lá tem um lugar e alguém contente em
reencontrá-lo, de falar com ele”.
O ambiente familiar que ajuda o crescimento é aquele em que
as pessoas não se sentem julgadas o tempo todo. Quando em família há
sempre um clima de julgamento, de cobrança, de condenação, as
pessoas não se sentirão acolhidas. A “correção da rota” precisa ser feita. Não
pode ser postergada, mas será feita sempre no pano de fundo da confiança
e da paciência vigilante.
Todos nós temos sonhos, vivemos conflitos, trazemos
traumas que herdamos de nossa infância e da família de origem. Há pessoas
que tiveram uma juventude e um começo de vida madura marcados pelo
negativo e ruminam sentimento de culpa. Ora, a família é um espaço
de terapia de nossas doenças, de cura das feridas, de fortalecimento de nosso
interior. “A felicidade consiste em assumir o que é preciso assumir, em
libertar-nos do que pode nos causar mal, em curar mutuamente nossas feridas, em
nutrir-nos do calor de nossa comunidade familiar, de nossa comunhão, para
depois nos dispersarmos e construirmos o mundo”.
Criamos uma família que busca a felicidade na medida em que
nos dispomos a acolher o diferente, em perdoar os momentos de explosão
intempestiva, em ajudar o outro a reencontrar o norte da vida depois de
loucuras e desvarios.
Questões:
● Quais as melhores lembranças de nossa infância?
● O que haveremos de nos lembrar agora, no atual momento da
vida da família?
● Nem sempre pais e filhos podem reunir-se. O que
significa uma presença de qualidade dos pais na vida dos filhos e
vice-versa?
Nenhum comentário:
Postar um comentário